Os bancos de desenvolvimento multilaterais já assistiram o crescimento de 61% no financiamento de projetos contra as mudanças climáticas entre 2013 e 2019. Nesse período, a participação de projetos relacionados a na carteira das instituições multilaterais cresceu de 18% para 29%.
O exemplo foi citado pelo embaixador Sarquis Sarquis, Secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Itamaraty, no âmbito do que chamou de “onda global de financiamento verde”, durante o painel dedicado ao financiamento da bioeconomia, que integra a conferência Biofuture Summit II/Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST) 2020-21. Participaram do painel representantes de bancos de desenvolvimento do Canadá (EDC), do Brasil (BNDES), dos BRICS (NDB) e instituições financeiras e de consultoria especializadas.
O volume voltado para o financiamento da bioenergia, no entanto, ainda é pequeno, lembrou o Secretário. “Apenas US$ 0,89 de cada US$ 100 investidos em energia renovável são destinados ao financiamento de bioenergia. Por outro lado, US$ 77 de cada US$ 100 são dirigidos a projetos de baixo risco e de tecnologias maduras como plantas solares e eólicas, as quais já são muito competitivas e podem ser apoiadas por instrumentos financeiros tradicionais”, pontuou.
Green bonds
Durante o painel, os títulos verdes (green bonds) foram alvo de debate. Tidos como um instrumento decisivo no financiamento de projetos sustentáveis, eles apontam para o futuro e já demonstram alguma musculatura. Leisa Souza, que lidera a Climate Bonds Initiative (CBI) na América Latina, ressaltou que, para fazer frente às necessidades de transição energética e redução de emissões de gases de efeito estufa projetados pela Agência Internacional de Energia (AIE), a emissão de títulos verdes para bioenergia deverá ser da ordem de US$ 60 bilhões ao ano até 2030. E de US$ 200 bilhões ao ano entre 2050 e 2060. Em perspectiva, demonstrou ela, o mercado global de títulos soma hoje US$ 93 trilhões e o de títulos verdes, US$ 1 trilhão. A América Latina contribui com apenas 2% para a fatia verde. De acordo com a executiva, desse total, o Brasil participa com US$ 8 bilhões, dos quais US$ 2,2 bilhões emitidos no ano passado.
Lynn Côté, do Banco de Exportações e de Desenvolvimento do Canadá, ressaltou um desafio a ser enfrentado. “As novas tecnologias de biocombustíveis em desenvolvimento precisam comprovar que são viáveis em larga escala para demonstrar ao mercado que são efetivamente viáveis”, pontuou. Para ela, é importante saber se os biocombustíveis são, efetivamente, bem representados no mercado de títulos verdes e se há a necessidade da criação de instrumentos específicos para o desenvolvimento do setor em um ritmo que possa atender às metas globais de combate às mudanças climáticas.
Outra sugestão foi dada por Don Roberts, CEO da Nawitka Capital Advisors. Ele defende que projetos de biomassa possam ganhar a atenção do mercado por meio do desenvolvimento de sistemas específicos de ratings. “Sistemas de ratings apoiam hoje investimentos de US$ 9,5 trilhões. Podemos criar um específico para o rating de cadeias produtivas específicas de biomassa. Isso seria importante para dar segurança aos investidores”, propôs.
Xian Zhu, vice-presidente e chefe de operações do New Development Bank (NDB), criado pelos países que compõem o BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), acredita que os principais desafios do financiamento dos biocombustíveis já foram sanados. “Questões sobre a segurança alimentar já podem ser bem administradas. E já temos o conhecimento necessário e instrumentos de riscos para isso”, resumiu.
Para além do mercado
Porém, nem todos os presentes ao painel acreditam que se trata apenas de atender às necessidades do mercado. “Cerca de 30% do potencial de mitigação global dos gases de efeito climáticos diz respeito às soluções baseadas na natureza”, pontuou Mafalda Duarte, do Banco Mundial. Para ela, as instituições financeiras multilaterais precisam prestar mais atenção ao papel dessas soluções, incluindo a bioeconomia. “Se quisermos atingir as metas de redução de emissões de carbono firmadas nos acordos internacionais, teremos que alocar recursos em larga escala, financiar atividades de baixo carbono e de resiliência climática acelerando projetos de maior risco e de ações de maior impacto”, defendeu.
Petrônio Cançado, diretor de crédito e garantias do BNDES, lembrou que o Brasil está em uma posição privilegiada na questão do desenvolvimento de biocombustíveis e a tecnologia da produção do etanol pode ser compartilhada com outros países. “Biocombustíveis e bioenergia requerem certa engenharia para o financiamento ou a emissão de títulos”, admite. No entanto, para ele, o papel imediato do setor financeiro no curto prazo deveria ser o de precificar os ativos da bioeconomia. “Só esta medida já seria uma contribuição importante para apoiar o desenvolvimento do setor”, defendeu.
A conferência Biofuture Summit II/Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST) 2020-21 foi organizada pelo governo brasileiro, por meio do Itamaraty, e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com apoio da APEX-Brasil e reúne, virtualmente até esta quarta-feira, representantes de governos, órgãos internacionais, setor empresarial e pesquisadores de mais de 30 países em mais de 150 sessões digitais em seus três dias de trabalho.
Sobre o Biofuture Summit II / BBest 2020-21: O Biofuture Summit é a principal conferência de debate e troca de experiências em políticas públicas promovida pela Plataforma para o Biofuturo. Para sua segunda edição, o Biofuture Summit — organizado pelo Ministério das Relações Exteriores, que conduz a presidência da Biofuturo — juntou-se à quarta edição da conferência científica Brazilian Bioenergy Science and Technology (BBest) — organizada pelo Programa de Pesquisa em Bioenergia da FAPESP —, para realizar um evento conjunto trazendo à luz o que há de mais avançado em políticas, financiamento, tecnologias, e ciência relacionadas à bioenergia e à bioeconomia em suas diversas formas. Participam do evento representantes de governos, órgãos internacionais, setor empresarial e pesquisadores de mais de 30 países. A Biofuture Summit II/BBEST2020-21 será totalmente online e acontece entre os dias 24 e 26 de maio. Mais informações acesse http://bbest-biofuture.org/
Sobre a Plataforma para o Biofuturo: A Plataforma para o Biofuturo é uma iniciativa intergovernamental, da qual participam várias partes interessadas. Foi projetada para agir pelas mudanças climáticas e apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com uma coordenação internacional pela promoção da bioeconomia sustentável de baixo carbono. Foi lançada em Marrakesh nas negociações climáticas da COP 22, em novembro de 2016. Desde 1º de fevereiro de 2019, a Agência Internacional de Energia (IEA) é o Facilitador (Secretariado) da iniciativa. A Plataforma para o Biofuturo tem vinte países membros: Argentina, Brasil, Canadá, China, Dinamarca, Egito, Finlândia, França, Índia, Indonésia, Itália, Marrocos, Moçambique, Holanda, Paraguai, Filipinas, Portugal, Reino Unido, Estados Unidos e Uruguai. O governo Brasileiro, por intermédio do Ministério de Relações Exteriores, preside a iniciativa desde seu lançamento. Como uma iniciativa da qual participam múltiplas partes interessadas, várias organizações internacionais, universidades e associações do setor privado também estão envolvidas e engajadas na condição de parceiros oficiais. Para obter mais informações, visite: www.biofutureplatform.org.
Sobre o BIOEN: o BIOEN, Programa de Pesquisa em Bioenergia da FAPESP, visa articular pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre entidades públicas e privadas, utilizando laboratórios acadêmicos e industriais para avançar e aplicar o conhecimento nas áreas relacionadas à bioenergia no Brasil. As pesquisas abrangem desde a produção e processamento de biomassa até tecnologias de biocombustíveis, biorrefinarias, sustentabilidade e impactos – http://bioenfapesp.org
Sobre a Apex-Brasil: A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. Para isso, a Apex-Brasil realiza ações diversificadas de promoção comercial que visam promover as exportações e valorizar os produtos e serviços brasileiros no exterior, como missões prospectivas e comerciais, rodadas de negócios, apoio à participação de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais, visitas de compradores estrangeiros e formadores de opinião para conhecer a estrutura produtiva brasileira entre outras plataformas de negócios que também têm por objetivo fortalecer a marca Brasil. A Agência também atua de forma coordenada com atores públicos e privados para atração de investimentos estrangeiros diretos (IED) para o Brasil com foco em setores estratégicos para o desenvolvimento da competitividade das empresas brasileiras e do país. https://portal.apexbrasil.com.br/
Atendimento à imprensa
Evocar Comunicação e Conteúdo
Regina Diniz (cel) + 55 11 9.8572-4041 – regina.diniz@e-vocar.com
Davi Machado (cel) + 55 11 9.9985-6884 – davi.machado@e-vocar.com
Ana Cecilia Americano (cel) + 55 11 9.6852-9623 – ana.americano@e-vocar.com
Ivanir Costa (cel) + 55 11 11 99770-5001 – ivanir.costa@e-vocar.com